"César seria útil aos propósitos de Cavaco, que se devem confundir com os do país nesta visita. Mais do que desprezar os seus préstimos, falta ao respeito à comunidade açoriana. Assim se unem os portugueses!"
A citação é de um editorial do jornal Diário Insular de Angra do Heroísmo, que magistralmente sintetizou os equívocos e os conflitos que o Presidente da República soube criar com esta visita. É que enquanto fala em unir os portugueses (dentro e fora do país) as políticas e a soberba desta presidência são antagónicas à retórica. A realidade é que a visita do Presidente Aníbal Cavaco Silva ao estado da Califórnia, com um banquete na cidade de S. José, cujos fundos reverteram a favor de uma das três organizações de serviços sociais ao serviço de gente de origem portuguesa, existentes entre nós, foi motivo para desunião nas nossas comunidades.
Primeiro há que dizer-se, desassombradamente, que estas visitas, mesmo a de um Presidente da Republica, se não forem preparadas com pelo menos sete a oito meses de antecedência, com reuniões preparatórias que englobem todas as forças vivas das nossas comunidades, dispersar por todo o estado, mas com maior afluência no Vale de São Joaquim, não terão os resultados que se desejam e que Portugal precisa, hoje mais do que nunca, dentro e fora do seio comunitário.
É urgente que o Terreiro do Paço compreenda, de uma vez por todas, que no mundo americano não basta deslocarem-se à Califórnia, ou a outra região deste país, uma dúzia de assessores (literalmente uma dúzia e alguns com a arrogância que conhecemos e detestamos) e ditatorialmente expressarem o que será o teor da visita. Aliás, devem ter compreendido que tal táctica não funciona. O mundo norte-americano, desde a política à academia, também com as suas vicissitudes e a sua própria embófia, não aceita semelhantes imposições. E o da alta finança, esse mundo de oportunistas momentâneos, se conseguir extorquir mais uns tostões ao já empobrecido erário público português, ao abrigo de faustosos benefícios fiscais, criando meia dúzia de postos de emprego temporários, fá-lo-á, com muito gosto. Aliás, há que acrescentar-se, porque nos Estados Unidos, devido à nossa composição do governo federal, esquecemo-nos facilmente, que o Presidente da República Portuguesa não tem qualquer poder executivo. Não pode celebrar qualquer protocolo, nem pode tomar qualquer decisão governativa. Apesar deste Presidente, o mais partidário de todos os presidentes desta terceira republica, como já o disseram em Portugal, ter gosto especial em actuar como Presidente/Primeiro Ministro, a verdade é que a constituição não lhe confere esses poderes. E ainda bem!
As injunções de uma presidência emproada só resultam em alguns cada vez mais reduzidos círculos comunitários. São os mesmos velhos do Restelo que há anos infestam-nos com as suas pseudo lideranças o os seus auto designados "sacrifícios pessoais" em prol das nossas comunidades. À espera da tão cobiçada condecoração, não só vendem, como diz o provérbio popular, "a alma ao diabo", como abdicam das suas capacidades cerebrais, particularmente da competência critica. Em troco de um momento de efémera glória pessoal e habituados que estão às suas chefias paroquias, demitem-se de qualquer comprometimento colectivo. É que não há outra explicação pelas decisões feitas neste lado do atlântico, ou feitas na "capital do império" e aceites neste lado, pelos "escolhidos", que coloquem uma associação de serviços sociais num patamar e desconsiderem as outras duas. Ou que se inaugure um centro de língua portuguesa (pela primeira dama) numa universidade sem se fazer do acontecimento uma verdadeira celebração e um espaço de debate sério e digno (tão necessário) sobre o ensino da língua e cultura portuguesas em todo o estado da Califórnia.
A "falta de respeito à comunidade açoriana" que o Diário Insular referiu na sua edição de 8 de Novembro, é pertinente e também passou ao lado da maioria da liderança comunitária, quase todos eles açorianos, entenda-se. É do conhecimento geral (basta seguir as notícias na televisão portuguesa) que existem alguns conflitos políticos entre o Presidente do Governo Regional dos Açores e o Presidente da República. Mas uma visita às comunidades ultrapassa qualquer conflito pessoal, qualquer oportunismo político. É um insulto comunitário que o Presidente da República, ao visitar uma comunidade onde cerca de 99% dos seus membros são originários ou de ascendência açoriana, não tenha convidado o Presidente do Governo da Região Autónoma dos Açores. Está na moda o 1% querer ultrapassar todos os direitos dos 99%. E o mais assustador é que para além do Diário Insular em Angra, mais ninguém refere este vitupério, esta "falta de respeito." É que apesar do banquete realizar-se com sala cheia, esta visita, para a vasta maioria dos 330 mil californianos, que confessam ser de origem portuguesa, ficou totalmente despercebida. E não teve uma única repercussão na vida comunitária, nem utilidade para o debate urgente de: pensarmos as comunidades e construirmos o futuro. Mais, como já o disse e escrevi, esta visita, infelizmente, teve o mérito (porque, felizmente, nem toda a gente se cala ou anda à caça de uma condecoração) de fragmentar ainda mais uma comunidade já bastante fragmentada.
Acredito, veementemente, que a preparação de uma visita desta natureza tem que ser mais abrangente. Não aceito que o seu planeamento, em termos de comunidade, fique à mercê de assessores de Lisboa que não conhecem a nossa realidade, ou de um Conselho Consultivo Consular que numa geografia de milhares de milhas, cerca de 70% residem num raio de menos de 80 milhas quadradas: um grupo de vizinhos, já que muitos não são amigos. A comunidade, mesmo sem se expressar, porque está, infelizmente, mais virada para outros comodismos, merece melhor. E assim, digníssimos senhores assessores, e Excelentíssimo Senhor Presidente, não se une os portugueses, nem se ajuda, um milímetro, a preservar e disseminar a língua e a cultura portuguesas em terras da Califórnia.
Todos os ofícios e despachos oficiais destacavam, com veracidade, que esta era a primeira vez, em 21 anos, que um Presidente da Republica visitava a Califórnia. Nem que isso, só por si, justificasse todas as injúrias e as quezilas que a mesma provocou. Se esta é a matriz das visitas presidências, espero que passem outros 21 anos até que venha cá outro presidente. Até porque, até ao ano 2032, talvez Portugal, finalmente, tenha aprendido a respeitar as suas comunidades. E nas comunidades talvez tenhamos tido a grande sorte de terem aparecido líderes com a audácia de defender os interesses colectivos de todas as zonas deste estado do Pacífico americano onde vivem gente de origem portuguesa, a vasta maioria com raízes no arquipélago dos Açores.
2011/11/15
2011/09/16
Justiça Social: Pode estar fora de moda, mas ainda é necessária
Longe vão os dias em que Franklin Roosevelt disse: "o nosso progresso como nação não será julgado pelo que poderemos adicionar aos bolsos de quem já tem muito, mas sim, se podermos ajudar aqueles que têm muito pouco." Houve um tempo nos Estados Unidos da América em que a justiça social era uma preocupação genuína, independentemente da cor política, da ideologia. Homens e mulheres, da esquerda e da direita, embora por vezes com métodos diferentes, preocupavam-se com a justiça social.
Longe vão os dias em que o Partido Republicano, partilhava as ideias de um dos seus mais famosos presidentes, Abraham Linclon, para o qual "os republicanos são pelo homem e pelo dólar, mas em caso de conflito o homem terá sempre precedente." É que os meandros do Partido Republicano durante os últimos seis meses, depois de ganhar as eleições legislativas de 2008, têm sido no sentido de abolir os programas sociais que o país possui. Todos os esforços dos republicanos, quer a nível nacional, quer a nível estadual, têm o seu clímax no plano de recuperação económica do Congressista Paul Ryan de Wisconsin. É que para este Congressista e os seus aliados em Washington, dar uns tostões aos mais marginalizados da sociedade é socialismo e dar subsídios às grandes companhias é capitalismo no seu melhor. Esta hipocrisia, faz-me lembrar a famosa citação do famoso bispo brasileiro, D. Hélder Câmara, que um dia disse: "quando dou comida aos pobres, chamam-me um santo. Quando pergunto porque é que os pobres não têm comida chamam-me comunista."
Quem segue as notícias norte-americanas, tem acompanhado as negociações (ou a tentativa do Presidente Barack Obama de negociar) entre a Casa Branca e a liderança republicana na Câmara dos Representantes sobre o défice e as políticas económicas do país. É do conhecimento geral que neste momento a nação americana tem uma grande divida. Como país devedor sobrevivemos com o nosso crédito, a habilidade de pagarmos as nossas contas, de fazermos as nossas prestações, daí que o truque do Partido Republicano de manter a economia refém, recusando aumentar o montante da dívida publica, não só é perigoso, como acima de tudo é mais uma assalto ao cidadão comum. É que apesar dos noticiários estarem inflamados com a retórica hipócrita de que jamais assinarão qualquer legislação que aumente a divida publica americana, sabe-se de antemão, que tudo isto é teatro político para confundir ainda mais o eleitorado, que ano após ano, embrulha-se na embustice republicana e vota contra os seus próprios interesses económicos.
A simples verdade é que o plano do Congressista Ryan, apresentado pelos republicanos como o mais "responsável" em termos ficais, só atingiria um défice equilibrado no ano de 2063, isso mesmo, daqui a 52 anos e tem como pressuposto que o desemprego estará a zero por cento. Mais, o plano de Paul Ryan aumenta o défice no espaço de 50 anos, cerca de 63 triliões de dólares.
Na realidade o plano de salvação do Congressista Paul Ryan, apoiado pela ala mais direitista do Partido Republicano, não é mais do que uma lista de Pai Natal para os mais conservadores do país, em que mais uma vez, os ricos ficarão mais ricos e os pobres mais pobres. Em que cada 10% de americanos que consiga dar um passo além da estrangulada classe média, outros 90% perderão poder de compra e ficarão mais endividados. É que na essência, o plano do Congressista de Wisconsin, propõe a redução no poder de compra da classe média em benefício das classes mais favorecidas.
Há ainda um outro aspecto do plano de Ryan que é assustador, ou seja a erosão total do sistema de saúde para os reformados, o Medicare. Embora seja do conhecimento geral que o sistema de Medicare necessita de ser reformulado, e vários economistas de várias cores políticas já o indicaram, o que a América, para continuar a ser América precisa é de o fortalecer. É urgente que sejam abolidos os gastos necessários no Medicare e é imperativo que este sistema esteja intacto durante muitas gerações. Há milhões de norte-americanos que utilizam o sistema de Medicare, incluindo muitos endinheirados.
Diga-se, em jeito de conclusão, que o plano de recuperação económica do Congressista Paul Ryan está cheio de tiques que favorecem as classes que mais beneficiaram durante os oito anos de Bush II. Diga-se ainda que o plano de Ryan não tem pernas para andar, porque contém as formulas de sempre: cortar os impostos dos mais ricos e abolir com qualquer programa social dos mais necessitados.
Diga-se ainda que para além de ser um retrocesso em termos de justiça social, é ainda um plano pouco Cristão.
Longe vão os dias em que o Partido Republicano, partilhava as ideias de um dos seus mais famosos presidentes, Abraham Linclon, para o qual "os republicanos são pelo homem e pelo dólar, mas em caso de conflito o homem terá sempre precedente." É que os meandros do Partido Republicano durante os últimos seis meses, depois de ganhar as eleições legislativas de 2008, têm sido no sentido de abolir os programas sociais que o país possui. Todos os esforços dos republicanos, quer a nível nacional, quer a nível estadual, têm o seu clímax no plano de recuperação económica do Congressista Paul Ryan de Wisconsin. É que para este Congressista e os seus aliados em Washington, dar uns tostões aos mais marginalizados da sociedade é socialismo e dar subsídios às grandes companhias é capitalismo no seu melhor. Esta hipocrisia, faz-me lembrar a famosa citação do famoso bispo brasileiro, D. Hélder Câmara, que um dia disse: "quando dou comida aos pobres, chamam-me um santo. Quando pergunto porque é que os pobres não têm comida chamam-me comunista."
Quem segue as notícias norte-americanas, tem acompanhado as negociações (ou a tentativa do Presidente Barack Obama de negociar) entre a Casa Branca e a liderança republicana na Câmara dos Representantes sobre o défice e as políticas económicas do país. É do conhecimento geral que neste momento a nação americana tem uma grande divida. Como país devedor sobrevivemos com o nosso crédito, a habilidade de pagarmos as nossas contas, de fazermos as nossas prestações, daí que o truque do Partido Republicano de manter a economia refém, recusando aumentar o montante da dívida publica, não só é perigoso, como acima de tudo é mais uma assalto ao cidadão comum. É que apesar dos noticiários estarem inflamados com a retórica hipócrita de que jamais assinarão qualquer legislação que aumente a divida publica americana, sabe-se de antemão, que tudo isto é teatro político para confundir ainda mais o eleitorado, que ano após ano, embrulha-se na embustice republicana e vota contra os seus próprios interesses económicos.
A simples verdade é que o plano do Congressista Ryan, apresentado pelos republicanos como o mais "responsável" em termos ficais, só atingiria um défice equilibrado no ano de 2063, isso mesmo, daqui a 52 anos e tem como pressuposto que o desemprego estará a zero por cento. Mais, o plano de Paul Ryan aumenta o défice no espaço de 50 anos, cerca de 63 triliões de dólares.
Na realidade o plano de salvação do Congressista Paul Ryan, apoiado pela ala mais direitista do Partido Republicano, não é mais do que uma lista de Pai Natal para os mais conservadores do país, em que mais uma vez, os ricos ficarão mais ricos e os pobres mais pobres. Em que cada 10% de americanos que consiga dar um passo além da estrangulada classe média, outros 90% perderão poder de compra e ficarão mais endividados. É que na essência, o plano do Congressista de Wisconsin, propõe a redução no poder de compra da classe média em benefício das classes mais favorecidas.
Há ainda um outro aspecto do plano de Ryan que é assustador, ou seja a erosão total do sistema de saúde para os reformados, o Medicare. Embora seja do conhecimento geral que o sistema de Medicare necessita de ser reformulado, e vários economistas de várias cores políticas já o indicaram, o que a América, para continuar a ser América precisa é de o fortalecer. É urgente que sejam abolidos os gastos necessários no Medicare e é imperativo que este sistema esteja intacto durante muitas gerações. Há milhões de norte-americanos que utilizam o sistema de Medicare, incluindo muitos endinheirados.
Diga-se, em jeito de conclusão, que o plano de recuperação económica do Congressista Paul Ryan está cheio de tiques que favorecem as classes que mais beneficiaram durante os oito anos de Bush II. Diga-se ainda que o plano de Ryan não tem pernas para andar, porque contém as formulas de sempre: cortar os impostos dos mais ricos e abolir com qualquer programa social dos mais necessitados.
Diga-se ainda que para além de ser um retrocesso em termos de justiça social, é ainda um plano pouco Cristão.
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