2011/09/16

Justiça Social: Pode estar fora de moda, mas ainda é necessária

Longe vão os dias em que Franklin Roosevelt disse: "o nosso progresso como nação não será julgado pelo que poderemos adicionar aos bolsos de quem já tem muito, mas sim, se podermos ajudar aqueles que têm muito pouco." Houve um tempo nos Estados Unidos da América em que a justiça social era uma preocupação genuína, independentemente da cor política, da ideologia. Homens e mulheres, da esquerda e da direita, embora por vezes com métodos diferentes, preocupavam-se com a justiça social.
Longe vão os dias em que o Partido Republicano, partilhava as ideias de um dos seus mais famosos presidentes, Abraham Linclon, para o qual "os republicanos são pelo homem e pelo dólar, mas em caso de conflito o homem terá sempre precedente." É que os meandros do Partido Republicano durante os últimos seis meses, depois de ganhar as eleições legislativas de 2008, têm sido no sentido de abolir os programas sociais que o país possui. Todos os esforços dos republicanos, quer a nível nacional, quer a nível estadual, têm o seu clímax no plano de recuperação económica do Congressista Paul Ryan de Wisconsin. É que para este Congressista e os seus aliados em Washington, dar uns tostões aos mais marginalizados da sociedade é socialismo e dar subsídios às grandes companhias é capitalismo no seu melhor. Esta hipocrisia, faz-me lembrar a famosa citação do famoso bispo brasileiro, D. Hélder Câmara, que um dia disse: "quando dou comida aos pobres, chamam-me um santo. Quando pergunto porque é que os pobres não têm comida chamam-me comunista."
Quem segue as notícias norte-americanas, tem acompanhado as negociações (ou a tentativa do Presidente Barack Obama de negociar) entre a Casa Branca e a liderança republicana na Câmara dos Representantes sobre o défice e as políticas económicas do país. É do conhecimento geral que neste momento a nação americana tem uma grande divida. Como país devedor sobrevivemos com o nosso crédito, a habilidade de pagarmos as nossas contas, de fazermos as nossas prestações, daí que o truque do Partido Republicano de manter a economia refém, recusando aumentar o montante da dívida publica, não só é perigoso, como acima de tudo é mais uma assalto ao cidadão comum. É que apesar dos noticiários estarem inflamados com a retórica hipócrita de que jamais assinarão qualquer legislação que aumente a divida publica americana, sabe-se de antemão, que tudo isto é teatro político para confundir ainda mais o eleitorado, que ano após ano, embrulha-se na embustice republicana e vota contra os seus próprios interesses económicos.
A simples verdade é que o plano do Congressista Ryan, apresentado pelos republicanos como o mais "responsável" em termos ficais, só atingiria um défice equilibrado no ano de 2063, isso mesmo, daqui a 52 anos e tem como pressuposto que o desemprego estará a zero por cento. Mais, o plano de Paul Ryan aumenta o défice no espaço de 50 anos, cerca de 63 triliões de dólares.
Na realidade o plano de salvação do Congressista Paul Ryan, apoiado pela ala mais direitista do Partido Republicano, não é mais do que uma lista de Pai Natal para os mais conservadores do país, em que mais uma vez, os ricos ficarão mais ricos e os pobres mais pobres. Em que cada 10% de americanos que consiga dar um passo além da estrangulada classe média, outros 90% perderão poder de compra e ficarão mais endividados. É que na essência, o plano do Congressista de Wisconsin, propõe a redução no poder de compra da classe média em benefício das classes mais favorecidas.
Há ainda um outro aspecto do plano de Ryan que é assustador, ou seja a erosão total do sistema de saúde para os reformados, o Medicare. Embora seja do conhecimento geral que o sistema de Medicare necessita de ser reformulado, e vários economistas de várias cores políticas já o indicaram, o que a América, para continuar a ser América precisa é de o fortalecer. É urgente que sejam abolidos os gastos necessários no Medicare e é imperativo que este sistema esteja intacto durante muitas gerações. Há milhões de norte-americanos que utilizam o sistema de Medicare, incluindo muitos endinheirados.
Diga-se, em jeito de conclusão, que o plano de recuperação económica do Congressista Paul Ryan está cheio de tiques que favorecem as classes que mais beneficiaram durante os oito anos de Bush II. Diga-se ainda que o plano de Ryan não tem pernas para andar, porque contém as formulas de sempre: cortar os impostos dos mais ricos e abolir com qualquer programa social dos mais necessitados.
Diga-se ainda que para além de ser um retrocesso em termos de justiça social, é ainda um plano pouco Cristão.