Uma Vitória para a Nova América
Nestes dias difíceis, nós americanos, temos que escolher
o caminho da justiça social...o caminho da fé, o caminho
da esperança e o caminho do amor para com o próximo.
Franklin D. Roosevelt
Barack
Obama ganhou as eleições. Os americanos
fizeram a sua escolha , optando por Barack Obama ficar na Casa Branca mais
quatro anos. Mais, escolheram mais nove
Democratas para o Congresso do que na legislatura anterior e aumentaram a
maioria que o mesmo partido tinha no Senado. É mais do que óbvio, o cidadão americano,
escolheu o caminho do progresso, a visão liberal e rejeitou o conservadorismo e
a política obstrucionista que o Partido Republicano tem executado nos últimos
quatro anos. E mais uma vez, os jovens,
as mulheres e os grupos étnicos minoritários, particularmente os
afro-americanos e os hispânicos, votaram, maioritariamente, no Partido
Democrático. Mas as eleições já
passaram. Quatro semanas, no calendário
político do pós-modernismo, é quase uma eternidade. Daí que ilações é que podemos tirar deste
último ato eleitoral.
Primeiro,
há que dizer-se que no dia 6 de Novembro o Presidente Obama não só ganhou
reeleição, como a sua vitória, significou, o triunfo de um Nova América, a
América do século XXI: multirracial, multiétnica,
mais consciente do mundo que a rodeia, mais global e acima de tudo, preparada
para ultrapassar vários séculos de
tradições raciais, sexuais, conjugais e religiosas.
Barack
Obama, o filho de um casal multirracial, nascido no Havai, com ligações a
Kansas, Indonésia, Los Angeles, Quénia, Nova Iorque e Chicago, foi reeleito em
grande parte porque não só representa, como soube dialogar, com esta Nova
América, tal como o soube o Partido Democrático. Soube conquistar uma coligação que incluiu uma
grande percentagem dos trabalhadores fabris (45% dos trabalhadores
anglo-saxónicos de Ohio); mais de 70% dos votos dos hispânicos (incluindo pela
primeira vez, desde John Kennedy, a maioria do voto dos cubano-americanos da
Florida); 96% do voto dos afro-americanos e maiorias substanciais do voto de
vários outros grupos étnicos, incluindo os asiático-americanos.
A
campanha de Barack Obama soube trabalhar, e conquistar, não só em termos
raciais e étnicos, mas também em termos de estilo de vida. Alguns analistas questionaram, e vários
elementos do Partido Republicano, incluindo o antigo cérebro dos conservadores,
Karl Rove (o grande perdedor destas eleições) satirizaram a campanha de Obama
por estar focar em elementos demográficos específicos dentro da sociedade
americana, incluindo os gays.
Enganaram-se com o seu epigrama porque a mensagem que a campanha do
Presidente transmitiu foi uma mensagem sobre o futuro e não a do passado que os
Republicanos insistem em expedir. Aliás,
a campanha de Barack Obama não fez mais do que ler, com atenção, os números do
recenseamento de 2010, os quais indicam, claramente, que na primeira década do
novo milénio a população de asiático-americanos cresceu 43,3%, a de
afro-americanos 12,3%, a de latino-americanos 43% e da anglo-americanos apenas
5,7%. Há dados que são significativos e
que apesar dos Republicanos gastarem milhões dos seus amigos super-ricos não
são omitidos da realidade americana, desta Nova América que os conservadores
gostariam de ver apagada.
O Presidente
Barack Obama foi reeleito com o apoio desta Nova América, como se disse, mas
também porque falou a linguagem da Nova América onde assuntos tão pertinentes
como: a reforma do sistema da saúde publica; medidas para regirem o Wall Street
e o mundo da alta finança; reformulação das leis da emigração abrindo caminho
para cerca de 14 milhões de clandestinos e suas famílias; a decisão que as
mulheres devem ter sobre os seus próprios corpos, incluindo o uso medidas
preventivas para a gravidez e a oportunidade de ganharem o mesmo salário pelo
mesmo trabalho; o direito que os
cidadãos devem ter de casarem por civil com quem quiserem, incluindo pessoas do
mesmo sexo, são alguns, entre uma miríade de conteúdos relevantes para os
jovens e a maioria da Nova América.
Mais,
esta eleição mostrou-nos ainda, que esta Nova América, já não acredita nos
papões do passado. Na Nova América é
possível ganhar-se reeleição sem começar uma nova guerra. Melhor, é possível ganhar-se reeleição
acabando com as guerras e acabando com a exacerbada arrogância de que os
Estados Unidos são o mundo. Na Nova
América, multirracial, multiétnica e multicultural é possível ganhar-se
eleições sem denegrir no resto do mundo.
É possível ganhar-se eleições acreditando que somos um paceiro importante
na construção de um mundo mais justo, mais pacifico, mais progressista. Daí que a vitória de Barack Obama, foi mais
do que uma vitória política, foi uma vitória para a verdadeira união americana,
ou seja: nesta sociedade estamos todos juntos, somos um único povo,
independentemente de onde vieram os nosso antepassados, de quem somos e de como
vivemos as nossas vidas.
Esta
eleição também mostrou-nos, ainda mais uma vez, que os americanos, e
particularmente os novos americanos, que são de todas as cores; de todos os
credos religiosos, e alguns sem religião; de todos os estilos de vida; de todos
os estados sociais e económicos, acreditam no poder dos governos e que embora
não depositem toda a sua esperança no governo, acreditam, justamente, que os governos,
nacionais, estaduais e locais, são parceiros importantes na construção de uma
sociedade. Esta foi ainda uma vitória
que mais uma vez mostrou aos Republicanos que a sua hipocrisia de que a
industria privada resolve todos os problemas e que os governos podem ser
arrumados na prateleira do esquecimento, não funciona. E digo hipocrisia porque quando estão no
poder, como aconteceu com George W. Bush, aumentam os custos governamentais.
Foi, uma
eleição que mostrou-nos que os americanos querem um governo eficaz e programas
governamentais que ajudem aos mais carenciados da sociedade. Foi uma vitória para os conceitos da
verdadeira liberdade, da justiça social e da paz. Foi ainda uma rejeição das propostas que
tirariam à classe média para dar aos mais endinheirados do país ou àqueles que
apesar de não terem esses montantes, pensam que já o têm, aos novos ricos, ou
pior ainda, aos pseudo-ricos, porque são estes que têm dado algumas vitórias
aos conservadores. O conceito de se
querer ser rico a todo o custo é repugnante.
A Nova
América falou e decidiu que queria construir uma sociedade mais equitativa e
todos, mas mesmo todos, dentro e fora deste grande país, ganharemos com esta
decisão.