O Nosso Património
Cultural
Há
dias partilhei um “post” do Facebook, do meu amigo José Avila sobre uma feira
de livro na cidade de Manteca, no norte do vale de San Joaquim. Agradeço ao Jose
Avila pelo
"post" e tal como ele (e isto vem na linha de um comentário que tinha
feito) acho que fazia mesmo muito bem as nossas festividades irem além do
populucho. É que a leitura é dos atos mais importantes para o crescimento de
qualquer pessoa. Fazia-nos bem, muito mesmo, que as nossas festas (e Deus sabe
que temos tantas) fossem também espaços da cultura erudita e que fossem
instrumentos para incentivar a leitura. Bem sabemos que no seio da nossa
comunidade de origem portuguesa espalhada na Califórnia já se lê pouco em
português, mas o menos que falta são livros de temática portuguesa em inglês.
Desde as obras dos nossos maiores escritores portugueses aos contemporâneos de
língua portuguesa, de toda a lusofonia. Todos estão traduzidos para português.
Depois temos a Portuguese Heritage Publications da Califórnia e a Tagus Press a
publicarem obras em inglês sobre temáticas portuguesas, algumas relacionadas
com as comunidades e outras traduções de obras literárias portuguesas. Há um
manancial de publicações que precisavam serem lidas pelas nossas comunidades,
para todos de todas as idades. Fazia-nos bem valorizarmos a cultura dos livros,
da leitura, do saber, do conhecimento. Fazia-nos bem termos em cada festa uma
mini feira do livro--(há anos que fazemos isso nos eventos da escola em
Tulare--raramente vendemos, mas lá estão livros); fazia-nos bem passar o nosso
legado cultural de uma forma mais abrangente e mais correta. É que o conhecimento
dos nossos jovens adultos pela cultura portuguesa é ainda muito rudimentar. Nas
nossas instituições fica-se pelos elementos mais básicos da cultura popular e
pelo mundo português que raramente vá além da freguesia, da ilha. Que raramente
vá a todo o arquipélago, mais raro a toda a portugalidade, e muito mais raro à
lusofonia. Atuamos como se o centro do mundo e a cultura portuguesa estivessem
circunscritos à freguesia dos nossos pais ou avós. Atuamos como se tudo o que
engloba a riquíssima tradição da cultura portuguesa, e do mundo da língua
portuguesa, estivesse implantado e restrito aos aspetos mais populares. E mesmo
no mais popular não damos espaço ao que nos vai levantar como comunidade: o
conhecimento, a leitura, o saber. Sei que muita gente se sente confortável
nesse pequeno espaço, mas somos mais, muito mais e só com os livros e o
conhecimento poderemos passar quem verdadeiramente somos. Não sei porque é que
como comunidade temos medo dos livros?!. Há que criarmos espaços para todos os
aspetos do nosso património cultural, porque temo que o que andamos a passar é
mesmo muito básico, extremamente elementar. Daí que desafio (no sentido inofensivo
da palavra em inglês--challenge) as nossas organizações a copiarem este aspeto
bonito desta festividade em Manteca e começarmos a ter espaços para os livros,
para a poesia, para a totalidade da cultura portuguesa. É tempo de irmos mais
além. É tempo de levarmos o valor das nossas artes junto de toda a comunidade.
Não tenhamos medo da literatura, da poesia, do ensaio, da crítica literária, do
conto, etc. Para se ter conhecimento da nossa identidade temos que conhecer
elementos que vão além do popular. Há que conhecer a nossa história coletiva, a
nossa literatura, a nossa poesia, os nossos contributos no mundo da filosofia,
das ciências, etc. Os livros trazem-nos isso tudo. Seria muito bom mesmo que os
luso-descendentes pudessem conhecer a irreverência poética de um José Régio e
de uma Natália Correia; a criatividade de um Saramago, um João De Melo, um
Jorge Amado, um Mia Couto, um Pepetela, um Germano Almeida, entre outros.
Conhecer um Eça de Queiroz, um Antero de Quental, um Fernando Pessoa e o nosso
Camões, além do nome, claro. E mesmo conhecer e ler os nossos
luso-descendentes, como um Frank Gaspar, uma Katherine
Vaz, um Anthony Barcellos, uma
Lara Goulart, entre outros. Gastamos tanto tempo e energia em tantas atividades
populares que nunca temos espaço para elementos fulcrais como a nossa
literatura. E magoa-me em termos culturais ver jovens adultos, orgulhosos da
sua cultura mas sem a, verdadeiramente, conhecerem--embora pensando e às vezes,
vaidosamente, que a conhecem, sem nunca terem lido alguns dos nossos clássicos,
alguns dos nossos contemporâneos, alguns dos nossos luso-americanos. Ainda que
fosse para discordar com eles. Há ainda muito que fazer meu caro Jose Avila
nestas nossas comunidades e não sei se algum dia chegaremos a esta ideia que
trouxeste aqui e pela qual lutei (e ainda luto) durante os colóquios, simpósios
e outras atividades que teimei em fazer, Sei que há quem ficará chateado com
isto, mas também com os 56 anos que já cantam nunca me preocuparam as criticas
e sempre me preocupou o crescimento cultural das nossas comunidades. Esse
crescimento cultural só se faz com a leitura. Não venham dizer que são
conhecedores da cultura portuguesa, como já ouvi tantas vezes, e nunca leram um
livro de um dos nossos escritores. A
cultura portuguesa vai muito além de uma festa popular
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