Há dias,
numa das minhas frequentes viagens a Fresno que fica a 45 minutos de minha
casa), para gravar o programa de televisão que modero, os Portugueses no Vale (a celebrar o seu 23o aniversário) vi um autocolante,
de certeza num carro de um professor de matemática, que dizia: a matemática é radical. Também é cliché dizer-se que: a verdade está
nos números. E é de números que quero
refletir, particularmente os números que falam de quantos somos no estado da
Califórnia, um dos mais emblemáticos da união americana e onde a nossa presença
portuguesa data o século XIX.
Um dos
nossos números favoritos, é, indubitavelmente, o milhão. Todo o mundo quer ser milionário. E nós portugueses e luso-descendentes, não
fugimos à regra. Quando se pergunta por
aí, quantos somos na Califórnia, é quase unanime que somos: um milhão. E em cada estado da na união americana
queremos ser um milhão, o que nos dava, nos Estados Unidos pelo menos uns cinco
a seis milhões de portugueses e luso-descendentes. Mas a realidade é diferente. Se nos faz bem ao nosso ego coletivo sermos
um milhão, que fiquemos com ele. Porém,
não são esses os números oficiais. Esses
sim é que contam. São esses números que
as entidades americanas se baseiam para distribuir recursos, dar apoios,
reestruturar serviços, etc. Daí achar
boa ideia olharmos para os números e depois, claro que voltaremos ao nosso
milhão.
Permitam-me
prefaciar esta olhadela pelos números estabelecendo a premissa de que é obvio
que durante o recenseamento, o Census 2010, houve alguns luso descendentes que
não se identificaram como tal, ou por não acharem importante, ou por não
querem. O que também se poderá
acrescentar: se não se querem identificar como tal, serão? É uma questão pertinente e discutível.
Segundo
o relatório do governo americano somos, nos Estados Unidos, 1,405,900
portugueses e luso-descendentes, ou seja, representamos cerca de 4,7 da
população do país. Somos 374,875 no
estado da Califórnia, seguidos por Massachusetts que tem 311,767. E até estamos, como se sabe, no Hawaii, onde
somos um pouco mais de 100 mil luso-descendentes.
Das pessoas que se identificaram como sendo de origem
portuguesa na Califórnia, 49,3% são homens e 50,7% são mulheres, daí que não
faça sentido que as nossas instituições ainda estejam controlados pelos machos,
com pouquíssimos cargos de importância a serem ocupados pelas senhoras. A idade média das pessoas de origem portuguesa
na Califórnia é 39,1 anos de idade, o que nos diz aquilo já há muito sabemos:
somos uma comunidade envelhecida. Quando
há anos ia a eventos culturais da nossa comunidade (o que faço com regularidade
há três décadas) e era o mais novo, achava piada. Agora com 53 anos feitos e por vezes sou dos
mais novos, já não tem piada nenhuma.
No campo
da educação 12,1% das pessoas que se identificaram como portuguesas, têm apenas
a instrução primária; 27,3 possuem o ensino secundário; 37% têm alguma instrução
além do ensino secundário, desde curso técnico a algumas unidades
universitárias; 16,1% possuem uma licenciatura (Bachelor's degree) e 6,8%
possui mestrado ou doutoramento. Daí que
87% da nossa comunidade concluiu o ensino secundário, ou seja um número muito
acima da média dos hispânicos, por exemplo, e 22,9% tem cursos universitários,
algo que, felizmente, tem mudado muito nos últimos anos.
Outros
números interessantes e importantes para refletirmos quem somos neste grande
estado norte-americano, referem-se por exemplo a quantos somos os que nascemos
em Portugal e os que nasceram nos Estados Unidos e ainda se consideram
portugueses. Das quase 375 mil pessoas
que se identificaram como de origem portuguesa, 36,7% nasceram em Portugal (a
vasta maioria nos Açores), Desses 25,3%
naturalizaram-se americanos, mas temos ainda 11,3% da comunidade que não se
naturalizou. No que concerne à língua de
comunicação utilizada em casa, 83,3% dos nossos lares só falam inglês e apenas
16,7% das nossas famílias ainda falam português nas suas casas.
Dos
homens recenseados com mais de 16 anos de idade, 51,1% estão casados; 34,6%
estão solteiros; 1,4% separados; 2,5% viúvos e 10,3% divorciados. No que concerne às mulheres, 38% solteiras;
47,7% casadas; 1,9% separadas, 9,2% viúvas e 13% divorciadas. Quanto às profissões e vencimentos, das quase
375 mil pessoas de origem portuguesa na Califórnia, 73% trabalham na industria privada e por
conta de outrem; 16,8% trabalham no sector publico, 9,8% trabalham por conta
própria, 0,2% estão nas forças armadas (apenas 713 pessoas em todo o estado) e
5,5% estão desempregados (ou estavam em 2010).
Dos trabalhadores 39,2% têm um vencimento anual inferior a 50 mil
dólares (desses 13,8 % menos de 24 mil dólares ao ano); 17,9% ganham entre 50 a
74 mil dólares por ano; 14,6% entre 75 e 99 mil dólares por ano; 16,7 por cento
entre 100 a 140 mil dólares; 6,4% entre 150 a 199 mil dólares e 5,1% têm um
vencimento anual superior a 200 mil dólares. Dos apoios e reformas publicas, 27,8% das pessoas
que se identificaram como de origem portuguesa, recebem a sua reforma do Social Security e 6,7% recebem apoio
governamental, tal como food stamps.
No que
concerne à distribuição da nossa comunidade, estamos, como se sabe, um pouco
por todo o estado, por exemplo: 33,816 no condado de Alameda; 24, 670 no
condado de Contra Costa; 11,221 no condado de Fresno; 6,056 no condado de
Kings; 22, 001 no condado de Los Angeles; 12,031 no condado de Merced; 1,890 no
condado de Napa; 11,110 no condado de orange; 7,268 no condado de Riverside;
23,575 no condado de Sacramento; 7,111 no condado de San Bernardino; 21,184 no
condado de San Diego; 19, 096 no condado de San Joaquim, 6,069 no condado de
San Luís Obispo; 28, 205 no condado de Santa Clara; 25, 212 no condado de
Stanislaus; 7,894 no condado de Sonoma; 9,668 no condado de Tulare e 3,562 no
condado de Humboldt, entre outros.
Em
termos de cidades temos, segundo o Census de 2012, San Jose com 15,480; San
Diego com 7,027; Los Banos 1,871; Santa Clara 3,654; Chino 1,174; Artesia
1,379; Tulare, 4,122; Hilmar 2,015; Antioch 1,998; Modesto 7,250; Stockton 2,568;
Petaluma 1,755; Sacramento 7,182; Turlock 5,184; San Leandro 2,713; PismoBeach
com 208, entre outras cidades.
Claro
que números são números, mas destes números podem tirar-se muitas ilações. É que, como dizia o tal autocolante, a matemática
é radical. O importante é termos em
consideração quantos somos, segundo os números oficiais, e enquanto eles forem
estes, e provavelmente a tendência é para diminuírem, acho que deveremos ter
muito cuidado com o tal mágico milhão. Pode
ser um número bonito, redondo, bem sonante e até pode alimentar o nosso ego
comunitário. Porém, não é verdade e
fica-nos mal andarmos a dizer que somos o que não somos, porque, e cá vem o
cliché: a verdade está nos números e eles explicam-nos muito o que se passa nas
nossas comunidades de origem portuguesa na Califórnia.
Diniz
Borges
Junho de
2012
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